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Durante a Conferência de start-ups da UE desta semana, enquanto o Primeiro-Ministro de Malta circulava entre os estandes de alta tecnologia e flashes de câmeras — optando naquele dia por não falar com a imprensa — coube a George Gregory, o recém-nomeado CEO da Malta Enterprise, assumir o protagonismo. A escolha refletiu claramente a crescente confiança na capacidade de Gregory para representar a visão econômica do país em público. Com mais de três décadas de experiência no setor privado, Gregory é muito mais do que apenas outro funcionário público. Ele já demonstra ser um trunfo na estratégia econômica nacional: diplomático, sereno e surpreendentemente franco.
“Fazer a transição do setor privado para o público não foi uma tarefa fácil”, disse Gregory à , relembrando sua mudança de carreira. “Mas tem sido uma experiência maravilhosa.” Se ele ainda está se adaptando, isso não transparece. Seu jeito é refinado, mas acessível — uma combinação que o posiciona muito bem nesse espaço complexo onde negócios e governo se encontram.
As start-ups estão particularmente próximas da área de atuação de Gregory. “Já liberamos cerca de € 9 milhões em financiamento para start-ups”, ele destaca. Mas a ambição vai além dos investimentos iniciais. O fundo de capital de risco apoiado pelo governo de Malta agora é complementado por 24 fundos de venture capital independentes e credenciados. “Isso é um passo muito interessante”, comenta, visivelmente animado. “Significa que estamos indo além dos subsídios e da tutela; estamos construindo um ecossistema real.”
A iniciativa também mira além das fronteiras. A Malta Enterprise vem atraindo ativamente fundadores internacionais — hoje, quase metade das novas start-ups vem de fora da União Europeia. “Estamos vendo uma diversidade muito grande de setores e países representados”, explica Gregory. “O principal desafio não é apenas atraí-los, mas retê-los. Malta, e a UE de forma geral, precisam focar nisso.”
Claro, inovação sem talentos é como um carro sem combustível. Gregory enxerga com clareza o déficit educacional, especialmente à medida que a tecnologia avança. “Precisamos nos afastar do nosso modelo tradicional de ensino”, afirma. “Tenho filhos pequenos e vejo claramente onde precisamos melhorar — e isso vale para o mundo todo, não só localmente.”
Além das escolas, a Malta Enterprise financia iniciativas de capacitação e requalificação profissional, por meio de programas como o “Get Qualified”. Gregory aponta a indústria da aviação como um exemplo de sucesso. “No entanto, precisamos de mais. Precisamos investir em requalificação em todos os setores.”
O setor de iGaming, consolidado e maduro em Malta, até agora exigiu pouca intervenção direta da Malta Enterprise. Ainda assim, Gregory sabe que não pode ignorá-lo. “É um setor bem desenvolvido”, observa. “Mas estamos em constante diálogo para garantir que qualquer movimento econômico esteja alinhado ao setor.”
Ele o descreve como “uma história de sucesso” e sugere que pode servir de modelo para outros segmentos. A fala pode soar diplomática, mas traz um recado claro: o crescimento de Malta não virá de um único setor. É hora de diversificar de maneira estratégica.
Na conferência, Gregory não se limitou a assistir a painéis ou participar de coletivas. Ele acompanhou o Primeiro-Ministro, conversou com jornalistas e trocou ideias com fundadores e investidores. Em um corredor, chegou a responder perguntas que o próprio líder do país preferiu evitar — uma cena rara em que o CEO se colocou na linha de frente da imprensa no lugar de uma autoridade governamental.
Gregory expõe sua abordagem à economia com a disciplina típica de quem vem do ambiente corporativo. “Atuamos em três grandes áreas”, explica. “Start-ups, o setor de pequenas e médias empresas locais, que representa uma parte importante da nossa economia, e grandes corporações e investimentos estrangeiros diretos.”
Apesar da amplitude, há um objetivo central: a prosperidade econômica sustentável. A Malta Enterprise deverá atuar tanto como incubadora quanto aceleradora, apoiando empresas de todos os portes no cenário regulatório e econômico em constante evolução.
Ele também imprime um senso de urgência, moldado pelas instabilidades geopolíticas na Europa. “Vivemos tempos incertos”, afirma. “Mas onde há riscos, há oportunidades.” Uma frase comum no setor de investimentos, mas raramente dita com tanta convicção no serviço público.
Se houve uma palavra que dominou a conversa de Gregory com a SiGMA, foi “inovação”. Para ele, não só é inevitável como absolutamente essencial. “A inovação está avançando rápido, provavelmente mais rápido do que muita gente imaginava”, avalia. “Precisamos acompanhar, garantir que estamos atraindo o tipo certo de inovação para Malta e entender o que isso significa para a economia.”
A inteligência artificial, o fintech e tecnologias emergentes vindas de start-ups globais já estão transformando setores econômicos. E Gregory não limita sua visão ao palco nacional. “Essas tecnologias não vão impactar apenas a economia de Malta”, aponta. “Estão remodelando as economias europeia e global. Precisamos abraçá-las, entender onde estão os riscos, mas também onde estão as oportunidades.”
Esse pensamento está alinhado ao recém-lançado Vision 2050, o plano estratégico que estabelece uma rota de crescimento econômico ligada à qualidade de vida e à sustentabilidade de longo prazo. A inovação não é tratada como um item à parte; está incorporada à política pública. E a Malta Enterprise se posiciona como elo entre a visão do governo e sua execução no mercado.
É aí que o histórico corporativo de Gregory se torna ainda mais evidente. “Estamos em contato constante com a indústria”, explica sobre a atuação da Malta Enterprise. “Conversamos com operadores, partes interessadas, ONGs — qualquer um que possa nos dar um termômetro do que está acontecendo. É assim que conseguimos ser ágeis.”
Gregory acredita que a velocidade de reação de Malta tem sido uma de suas maiores vantagens — e está determinado a manter essa agilidade, mesmo diante das burocracias e das pressões globais.
O que Gregory traz à Malta Enterprise é uma combinação de disciplina e ousadia, senso de oportunidade e capacidade de transformar visão em ação. E é exatamente isso que Malta precisa agora.
Em tempos de incerteza geopolítica, os países precisam de mais do que boas políticas: precisam de pessoas que entendam como as coisas funcionam — e como fazê-las funcionar melhor. George Gregory desponta como uma voz-chave no cenário de negócios e políticas públicas de Malta.