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À medida que Malta reforça sua estratégia econômica voltada para o exterior, sua relação com a África do Sul ganha uma nova relevância estratégica. Durante a SiGMA África 2025, autoridades maltesas apresentaram um ambicioso plano de cooperação que abrange os setores de iGaming, farmacêutico, turismo e mobilidade de profissionais.
A conferência SiGMA Africa 2025, realizada na Cidade do Cabo, foi o cenário ideal para Malta apresentar sua visão internacional em evolução, com ênfase especial no fortalecimento dos laços com a África do Sul. Em uma sessão conjunta liderada por S.E. Dennis Vella, Embaixador Não-Residente de Malta na África do Sul, e Jurgen Zammit, Chefe de Relações Externas da Malta Enterprise, representantes de ambos os países foram convidados a conhecer um sólido plano de cooperação baseado na maturidade regulatória, forças complementares e objetivos em comum.
Moderada por Shirley Pulis Xerxen, chefe de redação do Grupo SiGMA, a sessão ofereceu uma visão abrangente sobre as oportunidades e os mecanismos que podem moldar a parceria entre Malta e África do Sul nos próximos anos.
O embaixador Vella deu início à discussão destacando a relação já existente entre os dois países. Embora reconhecendo que Malta e África do Sul diferem em escala geográfica e contexto regional, ele ressaltou que ambas ocupam posições estratégicas e têm conexões globais, o que favorece sinergias naturais. Mais importante ainda, desafiou os parâmetros tradicionais do comércio bilateral, afirmando que “cooperação comercial não é apenas importação, exportação e investimento estrangeiro direto, mas pode haver oportunidades em alianças estratégicas, transferência de tecnologia, franquias, licenciamento, joint ventures e acordos de distribuição”.
Ele também destacou a importância da conectividade para fomentar o comércio e o turismo, observando que “Malta recebeu mais de 3 milhões de turistas, dos quais cerca de 6.000 vieram da África do Sul”, acrescentando que “cerca de 2.000 passageiros sul-africanos passaram ou desembarcaram de navios de cruzeiro”, uma tendência que, segundo ele, “reforça ainda mais a crescente conectividade entre nossos países”.
O embaixador também mencionou o número crescente de profissionais sul-africanos atuando em Malta, o que, segundo ele, “contribui com suas habilidades e expertise em diversos setores”. Esse movimento, afirmou, representa mais do que utilidade para o mercado de trabalho: “essa troca de talentos não apenas enriquece o mercado maltês, mas também aprofunda os laços culturais e econômicos entre as nossas nações”.
Além da mobilidade de pessoas, Vella comentou sobre as exportações de Malta para a África do Sul — principalmente produtos farmacêuticos e máquinas — e as importações sul-africanas de vinhos, frutas e óleos essenciais, com um volume total de comércio estimado em aproximadamente € 11 milhões em 2024. Embora modestos, esses números revelam uma base escalável para expansão.
Após as observações do embaixador, Jurgen Zammit apresentou uma análise detalhada da estrutura econômica de Malta e dos fatores que tornam o país atraente para investidores. Destacando a localização de Malta “na ponta sul da Sicília, bem no cruzamento entre o norte da África e o Oriente Médio”, posicionou o país como um ponto de acesso privilegiado tanto para a União Europeia quanto para a bacia do Mediterrâneo.
Zammit destacou a resiliência econômica de Malta, citando sua liderança no crescimento econômico europeu, com taxa de 5,7%, e o segundo menor índice de desemprego do continente, de apenas 2,9%. Ressaltou ainda o forte investimento do governo maltês em ecossistemas de inovação, mencionando uma economia diversificada que inclui manufatura avançada, setor farmacêutico, TICs, ciências da vida e educação.
O bom desempenho nas exportações se deve, segundo ele, a segmentos como eletrônicos de ponta, dispositivos médicos, impressão de segurança e embalagens de alta qualidade, produzidos por marcas globais como STMicroelectronics, Baxter e Cardinal Health. O setor farmacêutico, em especial, tem se beneficiado da agilidade regulatória de Malta. Zammit destacou o papel do país na produção de genéricos e a atuação da Malta Medicines Authority como “um regulador ágil… reconhecido não só na Europa, mas também pela FDA dos Estados Unidos”.
Ele também mencionou a infraestrutura digital em crescimento, afirmando que Malta está impulsionando a inovação em áreas como “blockchain aplicado a negócios, robótica e manufatura inteligente, bioinformática e novas vertentes farmacêuticas como a cannabis medicinal”. Esses avanços são reforçados por um ambiente de negócios favorável, com estrutura tributária vantajosa, processos de investimento simplificados e acesso a fundos estruturais da UE.
Um dos temas recorrentes da sessão foi o potencial de cooperação na indústria de jogos, setor no qual Malta é referência. Durante a parte de perguntas e respostas, Zammit traçou a trajetória pioneira do país, explicando que “Malta foi o primeiro estado-membro da UE a regulamentar o que, na época, era chamado de indústria de jogos de azar”, hoje transformada em um ecossistema de iGaming de reconhecimento mundial.
Segundo ele, “uma em cada dez multinacionais tem sua sede ou filial em Malta”, algo que atribuiu ao ambiente regulatório robusto e à postura proativa do governo. Zammit demonstrou grande otimismo com o potencial da África do Sul, afirmando: “Acreditamos fortemente que a África do Sul pode se tornar o polo de iGaming e jogos remotos de todo o continente africano”, e previu que “com o regime regulatório adequado, o setor de iGaming sul-africano terá um crescimento exponencial”.
Além dos jogos digitais e plataformas de apostas remotas, Malta se consolidou em setores complementares como FinTech, cibersegurança e análise comportamental. Zammit descreveu como empresas sul-africanas poderiam se associar a operadores malteses não apenas para acessar o mercado europeu, mas também para desenvolver soluções digitais adaptadas ao ecossistema africano.
A atratividade de Malta como destino para talentos também foi abordada. Zammit destacou os incentivos fiscais direcionados a profissionais seniores em setores regulados, explicando que “para CEOs, CFOs, CIOs… que trabalham em Malta com contrato de trabalho regular, é aplicada uma alíquota de 15% de imposto retido na fonte até o teto de € 5 milhões por ano”. Segundo ele, essa medida foi criada justamente para “reter talentos” em áreas globais competitivas como iGaming e cibersegurança.
Programas como o Highly Qualified Persons Programme e o Malta Startup Residence Programme contam com apoio da Malta Enterprise por meio de subsídios, financiamento para startups, juros subsidiados e mecanismos de cofinanciamento da UE para treinamento e desenvolvimento. Essas iniciativas, segundo Zammit, permitem que Malta “apoie desde a criação até o crescimento da empresa no país”, oferecendo suporte concreto desde a fase de ideia até a expansão.
Nas considerações finais, os dois palestrantes reforçaram uma mensagem comum: a base para uma cooperação bilateral já existe e agora precisa ser expandida por meio de acordos formais e diálogo institucional contínuo. O embaixador Vella confirmou que estão em andamento conversas sobre parcerias nos campos da educação, pesquisa e formação na área de hospitalidade, com o objetivo de criar programas conjuntos e caminhos profissionais.
Ele afirmou: “Estamos em estágio avançado para fechar outro acordo na área de pesquisa e inovação”, e destacou iniciativas para desenvolver “programas educacionais no setor de hospitalidade” em parceria com instituições sul-africanas. Segundo ele, tais esforços seriam potencializados com uma melhor conectividade aérea, o que poderia consolidar Malta como porta de entrada para a Europa tanto para turistas quanto para profissionais sul-africanos.
Zammit compartilhou esse otimismo e deixou um convite: “Estamos colaborando para identificar nichos em comum onde possamos impulsionar o crescimento de ambos os países.”
A mensagem final foi clara: Malta e África do Sul não são apenas parceiros comerciais, mas aliados estratégicos com potencial para construir uma relação moderna, resiliente e orientada para a inovação. Ao fim da sessão da SiGMA África 2025, ficou evidente que o que começou como um diálogo plantou as sementes de uma parceria de longo prazo, baseada em valores compartilhados e ambições econômicas mútuas.